Um dos meus hábitos quando saio para a rua é observar as pessoas que
se cruzam comigo. Sempre que o faço há uma pergunta que irrompe no meu
espírito: "Qual é o segredo delas para suportarem de forma tão silenciosa
o vazio que se reflecte nos seus olhos?"
Começa a ser crónico… não há um único dia em que eu não pare para
observar o mundo à minha volta e diga de mim para mim que já chega disto, que
já está tudo visto, que viver é a repetição intermitente de espaços comuns.
Tornou-se tudo tão mecânico, tão artificial, que a própria barreira
que separa a fantasia do real se tornou invisível. Eu bem a procuro, calcando
os pés no chão, na esperança de encalhar nela e nada. Também já lancei os olhos
ao mar horas a fio, ao ponto de ficarem azuis, e lá só vislumbro uma linha
curva que vai desembarcar em lado nenhum.
Tem de haver uma saída, uma porta, uma janela, ou mesmo uma fenda
minúscula que me permita vislumbrar o espaço que povoa o imaginário dos livros.
Mas é como se eu fosse a única que tem consigo a verdade e não a possa
transmitir ao mundo por ter a voz demasiado presa, embargada pelo choro contido
na garganta.